sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Uma mentira contada mil vezes se torna verdade

Hoje li, estarrecido, um texto publicado por um tal de "Rolo Compressor" onde, supostamente, ele tenta travar uma cruzada contra o racismo. Em síntese, ele faz um apanhado histórico (cheio de "leituras particulares" da história), para provar seu ponto de vista de que a torcida do Grêmio é formada de um bando de racistas e que nossa história é a prova disso.
Confesso que nem sei ao certo se deveria responder aos diversos absurdos que li. Também não entendi muito bem se ele realmente conseguiu provar seu ponto de vista, pois existem tantos "lapsos" na história que o amigo lá tentou contar, que chega a ser constrangedor.
De toda forma, quero destacar os principais pontos que mais chamaram a atenção, e que acredito que caibam observações, afinal, aparentemente, foram "esquecidos"...
Por exemplo, em seu texto, o tal Rolo fala que a aceitação de jogadores negros no Inter foi anterior a do Grêmio. Oficialmente, talvez. Não sou capaz de negar que a origem germânica dos fundadores do meu clube certamente era carregada de uma visão eugenista de mundo. Porém, dados históricos comprovam que Antunes, no longínquo ano de 1913, foi o primeiro negro a jogar em dos clubes da dupla.
Claro que para manter a história do "clube do povo" imaculada, muitos preferem, comodamente, ignorar essa parte da história.
Outro fato que não vi o blog aquele aprofundar foi a motivação que fez com que Lupicínio Rodrigues, um sambista, negro e pobre, torcesse pelo Grêmio. Não vou contar a história completa, que pode ser lida AQUI. Mas digamos que um certo clube dito do povo rejeitou a inscrição de um clube formado por negros, para que participasse da liga metropolitana.
Querem mais? Jair, jogador campeão brasileiro na década de 1970 já alertava de que havia preconceito no co-irmão, ou alguém vai negar essa matéria aqui? Poderia parar por aqui, mas não posso me furtar de lembrar do lateral Fabrício, do zagueiro Paulão, do africano que foi agredido por seguranças do Inter e, mais recentemente, do zagueiro colorado Cuesta, que proferiu palavras racistas contra um jogador do Ceará.
Existem outros tantos fatos que, convenientemente, são ignorados por alguns, só para tentar dar credibilidade a um discurso frágil e estúpido, tentando auferir ao Grêmio - e aos seus torcedores - uma alcunha que, definitivamente, estamos longe de merecer. Nunca lembram que a estrela que brilha em nosso pavilhão trata-se de uma linda homenagem a Everaldo, que jogou e foi campeão do mundo em 1970. Ocultam que nosso hino (considerado o mais belo do país) foi escrito por um compositor negro e pobre. Isso deve dar um nó na cabeça de alguns!
Tentam vender o discurso de clube do povo, mas habitam em bairro nobre da cidade, em terreno doado, e que jamais viu as contrapartidas exigidas em decorrência da doação. Enquanto isso, o clube "das elites" do Rio Grande do Sul, mora lá no Humaitá, do lado da vila dos papeleiros. E não só habita lá. Se integra à comunidade através de seus projetos sociais, como o Instituto Geração Tricolor e o Comunidade Tri, que buscam ajudar seus vizinhos, tão esquecidos pelo poder público. Alguém fala algo sobre isso? Não, pois se isso fosse difundido, as falácias, há muito ventiladas nessa cidade, cairiam feito chuva do céu.
É você agora pode estar pensando que estou aqui tentando provar que, na verdade, o Inter é mais racista que o Grêmio. Nada disso. Na verdade, só estou demonstrando que quando alguém tenta grenalizar um assunto sério como o racismo, atirando pedras no telhado alheio, esquece que, muito provavelmente, tem um enorme telhado de vidro sobre sua cabeça.
Quando um idiota qualquer incita o ódio da população contra um clube apenas, como se toda a fonte de racismo no mundo fosse sua culpa, está, na verdade, criando um álibi para todos os outros racistas que existem, afinal, personificar o mau torna a vida das pessoas mais tranquila, uma vez que as exime de uma autoanálise verdadeira sobre seus atos.
Quem escreveu o tal texto do Rolo Compressor, não está combatendo o racismo. Longe disso. Ele só está polarizando uma situação que exige uma discussão profunda e séria, algo que nem de perto ele alcançou com seu texto.
Se alguns cânticos da torcida gremista, mesmo que de forma inconsciente por parte de alguns, fazem referência a um passado racista de nossa torcida, esconder debaixo do tapete o racismo de sua própria torcida é leviano, e não contribui para um combate efetivo contra a covardia que o racismo carrega.
Jamais me furtarei de discutir de forma coerente e séria esse assunto. Porém, quando alguém tentar ser leviano sobre assuntos como esse, responderei à altura, pois em nada ajudam na causa. Só pioram as coisas e fazem com que os que lutam de verdade sejam desacreditados.

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