terça-feira, 3 de novembro de 2015

E o fim do racismo?

Mais uma vez, e em pleno século XXI, lemos estarrecidos acerca de repetidos e incessantes casos de racismo. Obviamente, a grande mídia somente expõe os casos ocorridos onde pessoas famosas são vitimadas, mesmo que a imensa maioria dos negros do Brasil sofram calados deste mal, diariamente, e bem longe dos holofotes.
E vendo a repercussão de todos estes casos, principalmente os noticiados nestas últimas semanas, invariavelmente acabo recordando daquele caso do goleiro Aranha. Os iletrados, do alto de seus encéfalos muito evoluídos, dirão que não devemos misturar futebol e clubismo com o racismo. Concordo plenamente, exceto pelo fato que já o fizeram antes, sem que nada fosse dito em contraponto.
Para dar nome aos bois, vou me ater a dois exemplos: aquele que sofreu a injúria, no caso o próprio Aranha, e o "ilustre" jornalista Sério Xavier Filho, que no dia 29/08/2014, publicou um texto intitulado "Não é a primeira vez que a torcida mais racista do Brasil manifesta sua estupidez".
Sobre o goleiro, provavelmente embebido da raiva acumulada durante toda uma vida sofrendo com a discriminação, foi aos jornais e destilou todo o ódio ao povo gaúcho e aos gremistas, dizendo que o nosso povo era mais racista que os demais.
E ao longo destes pouco mais de doze meses, os racistas, ocultados por redes sociais e perfis fakes, demonstram que não só o Rio Grande do Sul é racista, e sim, o povo brasileiro inteiro. É fácil para o "brasileiro cordial" empurrar a faceta racista ao povo que mora no sul do país. É cômodo pensar que somente que descende de imigrantes italianos e alemães, habitantes do calcanhar do país, é que são racistas.
O gaúcho é um povo racista? provavelmente a resposta seja sim. Mas somos tão racistas como aqueles que impõem o uso do elevador de serviço aos negros na Bahia ou em Brasília, ou aqueles que acham que profissão de nordestino é porteiro, como ouvi diversas vezes em São Paulo.
O Aranha foi covardemente agredido, fato. Mas ao invés de usar isso como plataforma para algo maior, que ajudasse a causa contra o racismo a ganhar força, para que transcendesse o futebol, provocando uma discussão muito maior, acabou por promover o ódio contra o povo gaúcho, como se só no sul existissem pessoas imbecis. Apenas para ilustrar de forma clara o que digo, pouco tempo depois do caso ocorrido aqui na Arena, Aranha foi vítima de racismo por parte da torcida do Santos também. Seria até irônico, se não fosse prova da imbecilidade que assola esse país.
Já o "jornalista" (entre aspas mesmo), foi mais longe. Gaúcho, e dito gremista, vomitou em sua página na revista Placar, todo o tipo de generalização acerca da torcida do Grêmio. Torcida mais racista do Brasil, disse ele, dentre tantos outros adjetivos pejorativos que promoviam apenas o ódio, passando longe da proposição de uma discussão profunda sobre um tema grave, como é o racismo. Possivelmente, segundo sua brilhante mente, criar o ódio contra um povo é "menos pior" do que cometer atos de racismo, portanto, é válida sua argumentação.
Não preciso nem dizer que, muito por conta de argumentos como estes proferidos pelo tal jornaleiro, torcedores do Grêmio foram hostilizados e agredidos em estádios país afora, pois a partir daquele momento, nos tornamos “A” torcida racista do futebol tupiniquim. Nos tornamos inimigos públicos número um, aqueles que mereciam sofrer todo o mal, afinal, onde já se viu uma torcida racista em nossos estádios, não é mesmo?
E passados pouco mais de doze meses de tudo isso, sabem o que mudou? Isso mesmo, absolutamente nada. O discurso de ódio contra a torcida do Grêmio não acabou com o racismo. Todos os dias, em todos os lugares do país - e até do mundo -, o racismo está lá, seja através de bananas jogadas no gramado onde um jogador negro tenta driblar o adversário e o preconceito, seja no post de desabafo do atleta do seu time, que perdeu um clássico, o que, convenhamos, é um "ótimo" pretexto para ofendermos alguém em decorrência de sua cor.
O que quero salientar com este post é que o racismo permanece imaculado no Brasil, através de comentários terríveis feitos em fotos de pessoas nas redes sociais e páginas da internet. A discussão sobre o racismo, após tudo o que foi dito, passou a ser levada a sério? Digo, sem nenhum medo de errar, que não mudaram nem um pouco. O racismo está aí, diariamente mostrando a faceta mais podre do ser humano, e nada mudou depois de tudo o que aconteceu.
E para nós torcedores do Grêmio, o que mudou? Bem, pouca coisa, também. Ainda somos hostilizados por algumas torcidas por aí. Nada que nos abale. Porém, o que a mídia não mostra, pois não é de interesse dela mostrar, é que, após o caso Aranha, a torcida do Grêmio iniciou um processo de discussões internas e definições que culminaram no banimento de músicas que poderiam ser interpretadas de forma diversa por alguém. Principalmente, aquelas que faziam alusão aos torcedores do Inter, os chamando de macacos. Vocês leram ou ouviram alguma coisa sobre isso? Aposto que não, pois já fomos marcados "na paleta". A alcunha de "torcida mais racista do país" se tornou nosso sobrenome, e basta que o Grêmio vença algum adversário para que as páginas da internet sejam abarrotadas de comentários chamando os gremistas de racistas e o escambau.
E dia após dia, manchete de jornal após manchete de jornal, a argumentação deste péssimo jornalista é encoberta com novos casos de racismo que ocorrem em TODO O BRASIL, tendo como protagonistas torcedores de diversos clubes. Ele foi seduzido a fazer sensacionalismo barato e colocou o rótulo de racistas em toda a torcida tricolor. Concordemos que, estava caindo de maduro que aproveitadores, sob o pretexto de "lutar contra o preconceito", lançariam mão de manchetes fajutas, sem qualquer compromisso com a realidade, apenas em busca de famigerados cliques em seus sites, ou um minuto ou dois de fama instantânea.
Parafraseando o que disse Fábio Koff na época, se tudo que foi falado e feito contra o clube fossem acabar realmente com o racismo no país, aceitaríamos o rótulo e as punições sem reclamar. Porém, sabemos que apenas nos usaram como bode expiatório de algo bem maior, que ocorre em todo canto desta nação, mas que as pessoas não tem coragem de assumir. Precisavam demonizar alguém para auferir o racismo no Brasil, e conseguiram.
No livro "Somos todos azuis, pretos e brancos", o jornalista Léo Gerchmann tenta desconstruir, mesmo que de maneira solitária, um erro histórico cometido por alguns incautos, que também insistem em chamar o Grêmio de clube racista. Léo comprova, através de pesquisas profundas na história do clube que, diferentemente do que é apregoado por alguns desinformados mundo afora, o primeiro jogador negro a jogar em um clube da capital foi Antunes, no Grêmio. Querem mais? Saibam que nosso hino foi composto por ninguém mais, ninguém menos que Lupcínio Rodrigues, negro, pobre, boêmio e gremista, e sentimos um orgulho danado disto. E você já se perguntou sobre a estrela dourada sobre o escudo do Grêmio em nossa bandeira? Não se trata de nenhuma alusão ao título mundial, e sim, uma homenagem feita pelo Grêmio ao jogador Everaldo Marques da Silva, que foi campeão mundial em 1970. Um atleta negro. Irônico, não acham?
Mas tudo bem. Continuem tergiversando sobre o racismo. Continuem fingindo que só nós, gremistas, é que somos maus neste país. Continuem a esconder a podridão de todos em nosso quintal. Quem sabe, assim, o racismo não acaba, não é mesmo?

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